Saturday, December 27, 2008

After Christmas Experience

Aos que me lêem gostaria de pedir desculpas pelo sumiço. A pré-comemoração natalina representou para mim um perídodo de imersão num programa de vídeo. Dediquei minhas horas diárias de pc ao filme que estava editando. Depois de uma ceia sem igual, passei por um dia seguinte razoavelmente estranho. Pronta para dar uma volta à pé pela cidade, curtir o píer, o sol do primeiro dia do ano e o friozinho de inverno, me deparei com a rua vazia. Quase nenhum carro e poucos solitários vagando, provavelmente aqueles sem família por perto, sem ceia, sem nenhuma lembrança do dia 25 de dezembro. Começava a escurecer e achei sensato voltar para casa.
De volta à cozinha, resolvi desossar o peru de Natal. Então comecei a desfiar o bichinho. A coxa, o peito, a sobrecoxa e a asa já haviam sido comidas, restara apenas a parte mais próxima do tronco do animal. Ao atingir a carcaça, BOOM! Imaginei que aquele poderia ser um corpo humano. Um corpo com vida. Senti uma espécie de consciência canibalística do tipo: "desossar é uma palavra bem amena para quem está mutilando um animal". Aos poucos me dei conta que por trás daquela carne existira toda um existência. Como seria a vida daquele peru? Como ele se alimentava? Quem era ele? Afinal, sendo meu alimento, levaria comigo todo o passado daquela criatura. Imagino que sejamos o somatório das energias pelas quais nos alimentamos. Enfim, qualquer vegetariano poderia supor que eu não fosse comer a carne. Mas fato é que um peru de Natal nunca fez tanto sentido para mim do que naquele dia. Saboreei aquele que poderia ser o cordeiro de Deus no sentido literal da palavra.

Sunday, December 21, 2008

In the Sweet Darkness of a Movie Theater

7 mortes se pagam com 7 vidas. Se em 7 dias Deus criou o mundo, alguns acabam com os seus em 7 segundos, tempo suficiente para sucumbir ao ataque de uma jelly-fish. Em torno do número 7, um excelente filme. O nome, Seven Pounds. Estimulada pelo personagem de Will Smith, tocante pela sensibilidade e entrega à flor da pele, decidi enumerar as qualidades do país em que estou vivendo. Já que meter o pau não é difícil! Começo pela maravilha dos supermercados. Coincidentemente, ao sair da sessão fui a um mercado procurar um macarrão sem glúten. Estava inchada e verde de fome. Quando entrei, quase dez horas da noite, fui recepcionada por um funcionário que logo me trouxe quase todos os produtos para celíacos do estabelecimento. Impressionante foi a presteza daquele sujeito determinado a achar minhas solicitações. Poucas vezes saí tão feliz de um supermercado. Paguei caro e gastei mais do que pretendia, mas havia na minha sacola cereal, cookies, waffles, pão e apple pie.
Outro ponto nota dez é o nível de honestidade dos seres do condomínio em que vivo. Numa mesma sala, todos os tipos de encomendas são deixadas, como uma imensa caixa postal. Nela, é possível encontrar desde cartas a caixas enormes, algumas com artigos como câmera de filmar. Onde seria possível encontrar tamanha confiança? Nem dentro de nossas casas!
Os Estados Unidos são também um país onde o trabalho é sempre bem-visto, seja você um técnico, um jornalista, um político ou uma hostess! Nesse país o preconceito perdeu espaço pro capitalismo há muito tempo. Se os goods são baratos, cara é a mão-de-obra. Não é à toa que ter uma empregada em casa diariamente é quase uma utopia. Como disse uma amiga, o custo de uma doméstica aqui nos faz ver o quanto no Brasil ainda vigora o regime de escravidão. Sem contar que cuidar de si mesmo é um execício bastante saudável. Não tinha idéia da quantidade de lixo que produzo até ver o número de caixas, plástico, restos de comida e papel que vão todos os dias para o saco.
As leis também funcionam. Beber e dirigir, nem em pensamento. Pena que não poderei encostar na bebida no próximo show do Matisyahu, no Brooklyn. Outro ponto pros Estados Unidos: o Brooklyn.
Enfim, como o fio de Ariadne, começo a me lembrar de vários fatores no meu dia-a-dia que me fazem crer na redenção norte-americana. Durante anos achei que os EUA significassem consumo. Não deixa de ser uma verdade, mas é muito mais do que isso. Talvez lá pra frente possa escrever mais a fundo sobre essa cultura que estou começando a entender. Que a convivência internacional e o novo governo confirmem esses votos de esperança.

Friday, December 19, 2008

Mirim

Pois não é que eu virei bartender? Ontem fui promovida e para minha felicidade já ganhei minhas primeiras gorjetinhas. Que de inhas não têm nada! Apesar de café com leite, já estou à procura do meu set de músicas brasileiras, quem puder enviar sugestões, agradeço. Existem algumas regras no expediente noturno. A primeira delas: cada um deve ter o seu kit astral. Nele estão incluídas as músicas mais animadas do seu ipod. Regra dois: não existe hora pra ir embora. E prepare-se, você vai passar a beber com frequência. Aqui nos Estados Unidos, os shots fazem as vezes da caipifruta (vodca ou cachaça). Vira-se um shot como se fosse um golinho da cerveja, quase sempre ao lado. Mostrarei minha brasilidade na caipirinha que pretendo apresentar na próxima semana. Só preciso achar a cachaça. Lavar copos na água quente, passar horas em pé e ouvir gracinhas toda vez que não se entende um customer usando slangs também fazem parte do pacote. Quando o problema é o nome da bebida, aí vira piada. Ontem mesmo! Um grupo chegou tarde. Como eu havia passado por horas de treinamento, fui lá anotar o pedido. Um dos caras me perguntou se teriam uns schnapps (um tipo de licor). Ao pensar em snacks, respondi: sorry, the kitchen is closed.
Saldo da noite = 71 doletas

Wednesday, December 17, 2008

Light Bulb Head

Ontem no meio da noite acordei sem conseguir pegar no sono de volta. É uma manifestação recorrente a cada ciclo criativo. Deveria pensar duas vezes antes de inventar uma moda. Imagino que meu cérebro seja hiper estimulante. A cada estímulo ele se torna obsessivo, é como uma compulsão por ação. Pena estar cansada o suficiente para não dar significado prático algum ao brainstorming de ontem. Pior que cheguei ao ponto de levantar da cama, exausta pelas horas acordada em silêncio, e dei de cara com a academia aqui do condomínio acesa. Quem malharia àquela hora? Não deu outra: por mais que me considere um curto-circuito, existem pessoas ainda mais compulsivas do que eu. Ou que pelo menos já conheçam uma válvula de escape mais eficiente para as madrugadas. Malhar por prazer às 4:00 a.m. é que seria estranho.
Segundo meu médico de plantão, o termo, já existente, seria cérebro hiper-ativo, ou hyper active! O vírus, pelo visto, se espalha com velocidade.

Sunday, December 14, 2008

Living in Baltimore

O título mantive em inglês porque a idéia é começar a me arriscar na escrita inglesa, um dos desafios dentre os tantos que já enfrentei desde que cheguei.. Mas vamos aos pouquinhos. Em doses nem tão homeopáticas, já que em 13 dias fiz um curta e comecei a trabalhar como hostess. É assim mesmo. Chegar num outro país é de fato uma experiência alucinante. Longe da minha rotina, sinto como se estivesse de férias, e imagino que logo retornarei ao meu mundo corriqueiro e corrido, com tantas atividades. Me deparo com esse sentimento de estar em outro lugar. Que outro lugar? Como se fosse um sonho, uma pausa. Tem um ar onírico em mim. Porém, tudo indica que uma vida nesse mundo paralelo venha a se consolidar. As portas parecem abertas para brasileiros e a união de um casal tem o poder de fazer a força. Recente e intenso, esse momento inicial apresentou uma possibilidade sem fim de descobertas. Estou curiosa e pretendo escrever a respeito. Até!