Tuesday, March 24, 2009

Liberty of the Press

Caríssimos Leitores,

À pedidos, comentários liberados! Um dos meus settings dificultava o post... Estou ainda aprendendo a "blogar". Afinal, de que serve um blog sem interação? Porém, não me rendo ao imediatismo das mídias online. Já é senso comum a ausência de qualidade do diário - infelizmente grande tendência do jornalismo. E cá entre nós, dedicar horas, dias, meses e anos ao computador não é lá ideal de sucesso. Um livrinho faz um bem....
Portanto, viva o pensar e ruminar de idéias!

Até breve.

Tuesday, March 17, 2009

Wonderland Life

Onde estão as abelhas, formigas e moscas? Depois de três meses ainda não visualizei nenhum inseto por aqui. Será o frio? Enfim, na falta dos bichinhos me contento com os choques diários causados pela eletricidade do ar. Seco. É chegar em casa e pular ao ligar o aquecedor. Mais um choque na TV, outro ao encostar no Rafa, e o último e mais perigoso: o choque do cobertor! Daria um bom título de filme. São tantos, que no escuro é possível ver as faíscas. Um show de fogos pra lá e pra cá!

Pois bem, voltando à questão da crise, a opção de lazer nacional número 1 virou o tal do cineminha. Coincidência ou não, o pós-Oscar deixou um punhado de bons filmes para apreciação. Pena que a pipoca, assim como no Cinemark, é quase o preço do ingresso! Vamos aos vencedores: "Milk" (de Gus Van Sant), com Sean Penn, é imperdível. Lindo ele, lindo aquele, todos numa luta universal pelos direitos homossexuais. Atuações brilhantes e um tema de extrema importância e urgência. Já "Slumdog Millionaire" (de Danny Boyle), vencedor de 8 estatuetas e mais prêmios espalhados por aí, arrecada palmas ao final da exibição. O filme, que parece um "Cidade de Deus" bollywoodiano, é realmente um sucesso de roteiro, fotografia, edição, direção e trilha sonora. A música "pegou" tanto, que hoje fiz aula de yoga ouvindo o disco do filme - nada zen... Um roteiro como esse daria pano-pra-manga no Brasil. Imagine as referências de um menino de rua... Fato é que esses jogos de conhecimento trazem à tona revelações da nossa história e experiência de vida. Denotam ainda a nossa criatividade. Quem já brincou de Master, sabe que respostas certas vêm às vezes de pensamentos absurdos e lembranças do arco da velha.

ADENDO: Aqui nos Estados Unidos, atualmente, existe um programa de televisão chamado Cash Cab. O programa se passa dentro de um táxi em Nova York, onde o motorista é o apresentador. Ao entrar no carro, o passageiro diz para onde vai. O motorista digita o endereço e avisa que aquele é o Cash Cab! O passageiro pode permanecer e participar do programa ou descer do carro. Ou seja, durante o percurso, o passageiro responderá perguntas diversas. Cada pergunta vale uma quantia em dinheiro. Quanto maior o percurso, melhor pro jogador. Em pouco tempo o passageiro está gritando, excitado, dentro do táxi. Do lado de cá da TV, o telespectador está enlouquecido tentando acertar as respostas também. Não tem idade, todo mundo quer ser o milionário. Vai o link do programa: http://dsc.discovery.com/fansites/cashcab/cashcab.html

Agora bom mesmo é o indie "In Search of a Midnight Kiss", de Alex Holdridge. Esse sim não pode passar desapercebido. Um tributo à Los Angeles à la Wood Allen. Uma homenagem à Nouvelle Vague de Truffaut e Godard. Uma referência à sequência "Antes do Amanhecer" e "Antes do pôr-do-sol", de Richard Linklater. Um rapaz em LA, depois de um ano esquecível, procura companhia no Craigslist, um classificado online muito conhecido nos EUA. Incentivado pelo roomate, que tem uma relação de dois anos com a namorada, o rapaz marca encontro com uma garota ESTRANHA e ESQUISITA. Daí... uma jornada pela frente. Um filme feito em movimento, com diálogos excepcionais, e com um coração extremamente afetivo. A história toda se passa em provavelmente 24 horas. É um show de realismo, humor, amor, surpresa e verdadeira emoção. E é noite de Ano Novo.

Como meu intuito não é criticar filmes, apenas indico o que me fez acordar cedo no domingo. Aqui em Baltimore tem um cinema alternativo que oferece o "Cinema Sundays". Depois de um café da manhã, os cinéfilos assitem à premiere de algum filme normalmente indie e logo após segue a discussão com convidado. Para minha surpresa, nada de intelectuais. Encontrei ali muitos senhores e senhoras, pessoas que gostam de cinema e que escolhem começar o dia com uma boa história. Eu sei que deu meio-dia e eu já havia vivido um dia inteiro. Em Los Angeles.

Thursday, March 5, 2009

Mixed Salad

Com a recessão, o americano não só deixou de consumir como gostou da idéia. O NY Times não pára de publicar matérias referentes à contenção de gastos. No início, tratava-se de piada inteligente: muitos executivos de Manhattan estão sendo obrigados a viver com meros meio milhão de dólares por ano. Agora é diferente. Famílias já não saem para comer fora, mudas e sementes de temperos vendem como água, produtos de manutenção de carros idem, pet shops estão fechando, personal trainer ficou em último plano. Ou seja, em tempos de crise não dá mais pra pagar alguém pra fazer o que vc poderia aprender a fazer. Receosos, até quem não teve o salário reduzido aderiu à moda da economia. Verdade seja dita, quem não gosta de ter um gravy no final do mês? Claro que, no caso, não se trata de dinheiro extra pra torrar, mas para reserva, tendo em vista os próximos anos de crise que bem podem chegar a dois longos "365 dias" mirrados. Assim, estão todos com aquela cara amarela, de quem pensa algumas várias vezes antes de comprar um item suspeitamente supérfluo. Pra quem sabe o valor do dinheiro, não é difícil entender a lógica. Agora o maior dos males parece ser o tal do mortgage.. Não sei porque tamanho stress. Em último caso, vira-se homeless! Por incrível que pareça, os EUA têm um sem número de pedintes na rua que devem ter esquecido a vergonha dentro de algum bolso de seus casacos de marca. Às vezes, tenho a impressão de que eles simplesmente resolvem ter "dia de homeless". Ocorreu-me certa vez de estar andando na Charles St, aqui em Baltimore. Estávamos eu e o Rafa. Na direção oposta vinha uma jovem loira, meio estilosa até. De repente ela vira e pede um trocado! Minha imaginação só poderia supor tratar-se de uma viciada, ou sei lá, tédio existencial. E outro pedinte em Washington que tinha um cavanhaque impecável? Cena esdrúxula. Uma cena, porém, que tem se repetido. Outro dia estava na biblioteca. Sim, aquela biblioteca vizinha redentora. Me sentei e gastei algumas horas trabalhando na tradução do meu currículo. Ao redor, alguns senhores. Um estava terminando de ler um livro, daqueles bem grossos, e aproveitou para iniciar algum outro clássico. Um outro senhor deveria estar escrevendo uma tese, tantas eram as letras no papel. Estava orgulhosa por encontrar-me em meio a intelectuais de idade, experientes. Um outro senhor lia jornal, e outros liam - enfim, liam. Pois bem, daqui a pouco me dei conta do cenário "Do Outro Lado da Sua Casa" (documentário do Renato Barbieri, Paulo Morelli e Marcelo Machado) em que me encontrava. Aqueles senhores intelectuais eram homeless! Cada um tinha uma bolsa/mala com cadernos, livros.. Que tal: menos casa, mais cultura? O tal Professor Gaivota (personagem real perfilado em "O Segredo de Joe Gold", de Joseph Mitchell), também homeless, havia estudado em Harvard! Como pode homens provavelmente brilhantes abdicarem de conforto indiscriminadamente? Sentirão menos a crise... Sim, do chão não tem como cair. Agora me pergunto: terão esses mestres do desapego respostas para uma economia em crise? Não sei. Outro dia li uma matéria também do NY Times, onde o colunista Thomas Friedman defendia a importância dos indianos para a economia americana (indianos, brasileiros, mexicanos... gringos), pois em tempos de crise, nada melhor do que recrutar as melhores cabeças, não importa de onde venham. Afinal, uma crise bem cuidada pode germinar frutíferos resultados. Ou seja, a supremacia do americano branco católico parece enfraquecer perante estrangeiros e excluídos dentro do país. Não sei não, primeiro elejem um presidente negro, agora tomam gosto pela abdicação ao consumo. Tem big bang vindo por aí. Se não é o fim dos tempos, é o inicio, sem dúvida.