Thursday, March 5, 2009

Mixed Salad

Com a recessão, o americano não só deixou de consumir como gostou da idéia. O NY Times não pára de publicar matérias referentes à contenção de gastos. No início, tratava-se de piada inteligente: muitos executivos de Manhattan estão sendo obrigados a viver com meros meio milhão de dólares por ano. Agora é diferente. Famílias já não saem para comer fora, mudas e sementes de temperos vendem como água, produtos de manutenção de carros idem, pet shops estão fechando, personal trainer ficou em último plano. Ou seja, em tempos de crise não dá mais pra pagar alguém pra fazer o que vc poderia aprender a fazer. Receosos, até quem não teve o salário reduzido aderiu à moda da economia. Verdade seja dita, quem não gosta de ter um gravy no final do mês? Claro que, no caso, não se trata de dinheiro extra pra torrar, mas para reserva, tendo em vista os próximos anos de crise que bem podem chegar a dois longos "365 dias" mirrados. Assim, estão todos com aquela cara amarela, de quem pensa algumas várias vezes antes de comprar um item suspeitamente supérfluo. Pra quem sabe o valor do dinheiro, não é difícil entender a lógica. Agora o maior dos males parece ser o tal do mortgage.. Não sei porque tamanho stress. Em último caso, vira-se homeless! Por incrível que pareça, os EUA têm um sem número de pedintes na rua que devem ter esquecido a vergonha dentro de algum bolso de seus casacos de marca. Às vezes, tenho a impressão de que eles simplesmente resolvem ter "dia de homeless". Ocorreu-me certa vez de estar andando na Charles St, aqui em Baltimore. Estávamos eu e o Rafa. Na direção oposta vinha uma jovem loira, meio estilosa até. De repente ela vira e pede um trocado! Minha imaginação só poderia supor tratar-se de uma viciada, ou sei lá, tédio existencial. E outro pedinte em Washington que tinha um cavanhaque impecável? Cena esdrúxula. Uma cena, porém, que tem se repetido. Outro dia estava na biblioteca. Sim, aquela biblioteca vizinha redentora. Me sentei e gastei algumas horas trabalhando na tradução do meu currículo. Ao redor, alguns senhores. Um estava terminando de ler um livro, daqueles bem grossos, e aproveitou para iniciar algum outro clássico. Um outro senhor deveria estar escrevendo uma tese, tantas eram as letras no papel. Estava orgulhosa por encontrar-me em meio a intelectuais de idade, experientes. Um outro senhor lia jornal, e outros liam - enfim, liam. Pois bem, daqui a pouco me dei conta do cenário "Do Outro Lado da Sua Casa" (documentário do Renato Barbieri, Paulo Morelli e Marcelo Machado) em que me encontrava. Aqueles senhores intelectuais eram homeless! Cada um tinha uma bolsa/mala com cadernos, livros.. Que tal: menos casa, mais cultura? O tal Professor Gaivota (personagem real perfilado em "O Segredo de Joe Gold", de Joseph Mitchell), também homeless, havia estudado em Harvard! Como pode homens provavelmente brilhantes abdicarem de conforto indiscriminadamente? Sentirão menos a crise... Sim, do chão não tem como cair. Agora me pergunto: terão esses mestres do desapego respostas para uma economia em crise? Não sei. Outro dia li uma matéria também do NY Times, onde o colunista Thomas Friedman defendia a importância dos indianos para a economia americana (indianos, brasileiros, mexicanos... gringos), pois em tempos de crise, nada melhor do que recrutar as melhores cabeças, não importa de onde venham. Afinal, uma crise bem cuidada pode germinar frutíferos resultados. Ou seja, a supremacia do americano branco católico parece enfraquecer perante estrangeiros e excluídos dentro do país. Não sei não, primeiro elejem um presidente negro, agora tomam gosto pela abdicação ao consumo. Tem big bang vindo por aí. Se não é o fim dos tempos, é o inicio, sem dúvida.

2 comments:

  1. carola! superou-se!

    ainda vamos nos cruzar pelos corredores do jornalismo.

    baccios

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  2. Excelente!!! Adorei os homeless!
    bjs.

    F.

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